“Totus Tuus ego sum”, “Sou completamente Teu”. Foi esse o lema escolhido por João Paulo II para o seu pontificado e, nos quase 27 anos em que esteve à frente da Igreja, ele testemunhou a importância da devoção mariana em nossas vidas e renovou em nossos íntimos a sólida piedade mariana. Em suas viagens pastorais, era comum se reservar um espaço para poder visitar os Santuários e Basílicas dedicados a Nossa Senhora. Entre outras, ele visitou a Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, no México; o Santuário de Fátima em Portugal; o Santuário de Jasna Góra em Czestochowa, na Polônia; o Santuário da Bem-Aventurada Virgem Maria do Santo Rosário de Pompéia; a Basílica de Nossa Senhora de Lourdes, na França, e a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, em nosso país. Em todas essas ocasiões, de joelhos, João Paulo II, em profunda oração, se dirigiu a Nossa Senhora, afirmando: “Mulher, eis o teu filho!” (Jo 20,26) A origem da devoção e da piedade mariana na vida de Karol Wojtyla está relacionada à Polônia. Vejamos o seu testemunho: “A veneração à Mãe de Deus, na sua forma tradicional, recebi-a da família e da paróquia de Wadowice. Lembro-me que, na igreja paroquial, havia uma capela lateral dedicada à Mãe do Perpétuo Socorro, aonde iam pela manhã, antes do início das aulas, os estudantes do ginásio(...) O escapulário de Nossa Senhora do Carmo eu o recebi, aos 10 anos, e ainda agora o trago(...) Houve um tempo em que, de certa forma, pus em discussão o meu culto por Maria, temendo que se dilatasse excessivamente e acabasse comprometendo a supremacia do culto devido a Cristo. Foi então que veio em minha ajuda o livro de São Luís Maria Grignion de Montfort, o ‘Tratado da verdadeira devoção à Virgem Maria’. Nele encontrei a resposta às minhas perplexidades. Sim, Maria aproxima-nos de Cristo, conduz-nos a Ele, com a condição de que se viva o seu mistério em Cristo”. (Dom e mistério). Ainda explanando sobre a devoção a Maria, ele nos disse em Aparecida: “A devoção a Maria é fonte de vida profunda, é fonte de compromisso com Deus e com os irmãos. Permanecei na escola de Maria, escutai a sua voz, segui os seus exemplos. Ela nos orienta para Jesus: ‘Fazei o que Ele vos disser’. E, como outrora em Caná da Galiléia, encaminha ao Filho as dificuldades dos homens, obtendo d’Ele as graças desejadas. Rezemos com Maria e por Maria: Ela é sempre a “Mãe de Deus e nossa!” (Homilia do Santo Padre João Paulo II em Aparecida, em julho de 1980). Essa foi uma constante lição de João Paulo II: A autêntica devoção mariana é, em sua essência, cristocêntrica, radicada profundamente no Mistério trinitário de Deus. “A função maternal de Maria para com os homens, de modo algum obscurece ou diminui esta única mediação de Cristo”. (Redemptoris Mater, 22) Como transbordamento de seu amor a Nossa Senhora, o Papa João Paulo II nos brindou com o Ano Mariano (1987-1988) e com o Ano do Rosário (outubro de 2002-outubro de 2003), além de duas importantes fontes de estudo de cunho mariano: a Carta Encíclica “Redemptoris Mater” e a Carta Apostólica “Rosarium Virginis Mariae”. E em diversas homilias, ele sempre se dirigiu à Mãe do Nosso Redentor. Em sua última viagem a Lourdes, em agosto de 2004, ele nos orientou: “A Imaculada Conceição de Maria constitui o sinal do amor gratuito do Pai, a expressão perfeita da redenção levada a cabo pelo Filho, o ponto de partida de uma vida totalmente disponível à ação do Espírito”. (Homilia do Santo Padre na solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria em Lourdes). Outras lições de seu pontificado: Aprender a olhar para Maria para junto dela aprender a viver em profunda união com Cristo e ainda, conhecer os dogmas marianos e se empenhar em sua defesa. Diante da possibilidade de novos e sangrentos confrontos mundiais, João Paulo II recorreu à poderosa intercessão de Nossa Senhora. Aos 13 de maio de 1982, ele renovou a consagração do mundo a Nossa Senhora de Fátima feita quatro décadas antes pelo seu predecessor, Pio XII. “À vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus! Diante de Vós, Mãe de Cristo, diante de Vosso Coração Imaculado, desejo eu, hoje, juntamente com toda a Igreja, unir-me com o nosso Redentor nesta sua consagração pelo mundo e pelos homens, a qual só no seu coração divino tem o poder de alcançar o perdão e de conseguir a reparação(...) Oh, Coração Imaculado! Ajudai-nos a vencer a ameaça do mal que tão facilmente se enraíza nos corações dos homens de hoje e que, nos seus efeitos incomensuráveis, pesa já sobre a nossa época e parece fechar os caminhos do futuro! Da fome e da guerra, livrai-nos! Da guerra nuclear, de uma autodestruição incalculável e de toda espécie de guerra, livrai-nos!(...) Quero dirigir-vos ainda uma oração especial, ó Mãe que conheceis as ansiedades e as preocupações dos vossos filhos. Suplico-vos, em imploração ardente e dorida que interponhais a vossa intercessão pela paz no mundo”. (Ato de confiança e de consagração à Nossa Senhora de Fátima). Com esse ato de consagração, notamos a sua atitude de entrega total a Maria, pois “A Virgem Maria está constantemente presente nesta caminhada de fé do povo de Deus em direção à luz!” (Redemptoris Mater, 35) Com os olhos da fé, vislumbramos o alcance desse ato de confiança e as inúmeras graças que posteriormente Deus derramou sobre o mundo. Com João Paulo II, reavivamos a certeza de que Maria é um graça singular que Deus nos concede. “A maternidade de Maria que se torna herança do homem é um dom: um dom que o próprio Cristo faz a cada homem pessoalmente” (Redemptoris Mater, 45). Com João Paulo II, aprendemos a contemplar o Rosário. “O Rosário é a minha oração predileta. Oração maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e na profundidade.(...) O Rosário, quando descoberto no seu pleno significado, conduz ao âmago da vida cristã, oferecendo uma ordinária e fecunda oportunidade espiritual e pedagógica para a contemplação pessoal, a formação do Povo de Deus e a nova evangelização”. (Rosarium Virginis Mariae, 2 e 3). Com João Paulo II, de modo especial, renasceu a necessidade da família rezar unida. “Sede fiéis àqueles exercícios de piedade mariana tradicionais na Igreja: a oração do Angelus, o mês de Maria e, de maneira toda especial, o Rosário. Quem dera renascesse o belo costume outrora tão difundido, hoje ainda presente em algumas famílias brasileiras, da reza do terço em família.” (Homilia em Aparecida em julho de 1980). E ainda, com João Paulo II aprendemos a ver Maria como a Mulher eucarística. “Maria está presente, com a Igreja e como Mãe da Igreja, em cada uma das celebrações eucarísticas.(...) Recebemos o dom da Eucaristia, para que a nossa vida, à semelhança da de Maria, seja toda ela um Magnificat!” (Ecclesia de Eucharistia, 57 e 58). Diante da Madona Negra de Jasna Góra, ele nos disse: “Seja Maria exemplo e guia no nosso trabalho quotidiano e difícil. Ajude cada um a crescer no amor a Deus e aos homens, a construir o bem comum da Pátria, a introduzir e consolidar a justa paz nos nossos corações e nos nossos ambientes”. (Discurso do Papa João Paulo II aos fiéis reunidos no Santuário Mariano da Virgem de Jasna Góra em junho de 1999). E no Brasil, diante da Virgem Negra de Aparecida, ele rezou por todos nós: "Ó Mãe! Acolhei em vosso coração todas as famílias brasileiras! Acolhei os adultos e os anciãos, os jovens e as crianças! Acolhei também os doentes e todos aqueles que vivem na solidão!(...) Não cesseis, ó Virgem Aparecida, pela vossa presença, de manifestar nesta terra que o Amor é mais forte que a morte, mais poderoso que o pecado! Não cesseis de mostrar-nos Deus, que amou tanto o mundo a ponto de entregar o seu Filho Unigênito, para que nenhum de nós pereça, mas tenha a vida eterna! Amém! (Oração do Papa João Paulo II na Basílica de Nossa Senhora Aparecida em julho de 1980) Era tão profundo o amor de Karol Wojtyla por Nossa Senhora que, em seu testamento, ele nos diz: “Sinto cada vez mais profundamente que me encontro totalmente nas mãos de Deus e me ponho continuamente à disposição de meu Senhor, encomendando-me a Ele em sua Imaculada Mãe”. Com o olhar da fé, podemos vislumbrar sob o pontificado de João Paulo II o manto azul de Maria que o protegeu não somente no atentado de 1981, mas em todos os momentos, em que ele, inspirado pelo Espírito Santo, conduziu a Igreja. Com essa certeza, podemos também afirmar que “o Papa encontrou o reflexo mais puro da misericórdia de Deus na Mãe de Deus. Ele, que havia perdido a sua mãe quando era muito jovem, amou ainda mais a Mãe de Deus. Escutou as palavras do Senhor crucificado como se estivessem dirigidas a ele pessoalmente: ‘Aqui tens a tua Mãe!’ E fez como o discípulo predileto: acolheu-a no íntimo de seu ser. Totus Tuus! E da mãe aprendeu a conformar-se com Cristo.(...) Confiamos tua querida alma à Mãe de Deus, tua Mãe, que te guiou cada dia e te guiará agora à glória eterna de seu Filho, Jesus Cristo Senhor Nosso. Amém! (Homilia do Cardeal Ratzinger na Missa de exéquias de João Paulo II)
Fonte:www.catedral.org.br
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